sábado, 21 de abril de 2012

Além do por do sol, outras mini luzinhas e calmaria... para o Poeta Dailor Varela


... Com ele troquei cartas, farpas, abraços, pedidos de amor e receitas de vinho.
Às vezes o achava medonho, desalmado e pretensioso. Na maioria, o MÁXIMO e, ele sabia.
Ainda era segunda-feira bem cedo (20/03/2012) quando recebi o desalento pela notícia de sua internação.
A inscrição no Conselho Regional de Assistência Social me dá garantia de entrada em locais restritos, especialmente Hospitais.
E foi lá que entrei com o coração aos pulos, em meio há tantos ele era ÚNICO no salão das emergências.
Chamei-o pelo nome, acariciei lhe a testa suarenta.
Ele reagiu com um olhar demoroso e palavrinhas curtas, incompreensíveis para, em seguida cair num ressono.
Seu quadro de saúde ainda era estável, “requerendo exames e cuidados” assegurou-me a enfermeira responsável.
Iniciava-se ali um tempo vigioso de incertezas e espera.
Em horas alternadas passei a visita-lo quase todos os dias.
Do setor Verde foi transferido para o Vermelho, o que evidenciava agravo e intensificação dos cuidados.
Contei sua história para equipe médica, Assistente Social e estagiária. Sua importância para nossa literatura e poesia.
Os dias seguidos ao AVC, doses elevadas de antibióticos, desconforto respiratório e descoberta da diabetes,
embotavam-lhe os olhos e, ele no seu sonho florejado de menino birrento que empurra o portão de pinho no paraíso, deu de não reagir aos estímulos. Aquele tiquinho de céu em plena terra cansou-se das agulhazinhas diárias e aferições.
O corte pequenino no pescoço, também chamado de traqueostomia, anunciava o mandato que não admite réplica.
Ele, que era entre os CEM, um dos MELHORES não melhorava e,
decidiu que no domingo (15/04), antes do almoço, ia mesmo encontrar-se com os pais no jardinzinho deles, cuja varanda dar para o poente e, fica de costa para uma bica de taquara, onde redes coloridas do Nordeste dão cheiros e, ficam balançando ao vento.
Tem ainda uma porção de pés de flor enfileirados.
Vaga-lumes e “anjos esbeltos desses que tocam trombetas”, borboletas e colibris, fazem parceria com outras delícias.
Dizem que por lá, nada é temível e, tudo é partilhável; luz, árvores, estrelas, água, coração e saudades...
É bem provável que por essas horas nosso Poeta maior esteja cantando para nós bem assim:

“No novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos.
Pra nos socorrer, pra nos socorrer”.

Acenos poéticos desse povo aqui, Mestre!
Lembranças que marejam o mais seco dos olhos e, uma boa querença danada de grande.

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