sexta-feira, 16 de novembro de 2012


Já havíamos comprado passagens, escolhido a roupa do dia, preparado o espírito para o maior encontro do ano e continuávamos;
eu e a irmã, negando a possibilidade de ida. Todas as desculpas cabiam nos telefonemas; hora  por conta do trabalho, hora por ser economicamente inviável, hora porque NÃO, ora!
Eles  faziam silêncio e, carinhosos, diziam  compreenderem o descomparecimento. Mas não entenderam quando aparecemos de surpresa no meio do salão branco todo enfeitado de flor e, estendemos os braços para o abraço mais despossuido de posses e mais festivo de toda essa vida. Lágrimas sinceras orquestraram aquele momento. O coração mais parecia boiada em galope que um músculo vital embalando o peito.
Estávamos os seis de novo envolvidos  pelo enlaçar do amor. O amor genuíno da matriz primeira. O amor que transborda, reveste, consagra, integra, reforça as batidas cardíacas e os pisões na unha do dedão. Justifica a colmeia bulinada com as pedras da coivara, a tapioca cozida no respiradouro da fornalhinha, o roubar das frutas de Tia Anália, os peixes do poço de Seu Zezito e nenhuma chinelada. Meus irmãos e eu, minha mãe e eles. O único sobrinho, as cunhadas, o cunhado, o Tio que nos deu de presente a primeira bicicleta. Minha alma de  beradeira voltava para o reflorescer do brejo (no tempo em que havia invernada) o milho embonecado e as outras safras descansando no paiol, o alpendre que cheirava manjericão e malva braba. O recreio no terreiro rústico, o ciscar das galinhas e a pintaiada. A leitura de cordéis, a oraçãozinha para o anjo guardião que o pai ensinava. - “Santo anjo do Senhor meu zeloso guardador” - ... e as humildes solidariedades. Tudo estava ali sobrepujando naquele salão branco enfeitado de flor.
A mãe deu o braço esquerdo à ele e caminharam suavemente para onde estava o Juiz. Os padrinhos também adentraram e a noiva que mais parecia uma princesa com hábito sereno, chegou pontualmente cheirosa a sorrir. 
Apanhada de sol sem conseguir fechar a torneira das lágrimas permaneci encostada na claridade daquela manhã, enquanto o responsável pela trilha sonora do evento, cantava aumentando a percepção das garantias divinas: “Nem mesmo o céu nem as estrelas nem mesmo o mar e o infinito não é maior que o meu amor nem mais bonito...”



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